Três dias para ver

 por Helen Keller


Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som.

De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles veem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que ela observara: "Nada de especial", foi a resposta.

Como é possível, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tato encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. 

Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.

Ás vezes meu coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazercom um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão! 


...

No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias fizeram a minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração de um amigo pelas "janelas da alma", os olhos.

...

E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros...Toquem cada objeto como se amanhã fossem perder o tacto. Sintam o perfume das flores...Usem ao máximo todos os sentidos.

Comentários

Postagens mais visitadas